O ataque de um jovem de 13 anos na estadual Thomazia Montoro é mais um episódio de uma novela que se arrasta há décadas e cujo final é sempre trágico.
A escola não suportou dois grandes movimentos internacionais que deram a tônica do funcionamento da sociedade nos últimos 40 anos: a ascensão do neoliberalismo/financeirização da economia e a intermediação das redes nas relações sociais.
O primeiro trouxe a crise da sociedade produtora de mercadorias. O capitalismo tratou de encher as burras das elites de forma rápida, volumosa e a baixo custo. Nada de fábrica, produção, trabalho e circulação de mercadorias. A parada agora no ocidente é transar papéis e, mais recentemente, Criptomoedas. A fábrica do mundo se desloca para China e Índia.
O mundo lá fora está perturbador.
As relações sociais antes dada pelo trabalho fabril, comércio, associação de bairro e sindicato agora se faz prioritariamente através de um celular. Vale pras escolas também. As redes sociais poderiam desempenhar um papel edificante na sociedade, mas derivam para uma falsa felicidade coletiva e a disseminação de mentiras. Quem não está conectado não existe e não é feliz.
Não se trata de demonizar a tecnologia, mas sim de associar as coisas. O capitalismo que passou um século e meio como produtor de bens virou um sistema estéril, cujas bases de consumo são mundiais e não mais locais, gerando grandes corporações, cujo faturamento é normalmente maior do que nações e bilionários cada vez mais bilionários.
O mundo lá fora mete medo.
Este quadro de insegurança gera medo. Medo de ter filhos, perder o emprego, contrair covid, de ser assaltado. Enfim, a vida se tornou pesada, as pernas estão arriando, cada vez se consomem mais remédios.
É preciso criar válvulas de escape. A ascensão da direita fascista é uma alternativa de violência para combater falsos responsáveis pela crise: direitos humanos, imigrantes, negros, etc. A felicidade das redes é outra destas válvulas.
Onde entra a escola aí?
Ela é parte desta crise, nem maior nem menor que ela. Estudar não garante emprego, às vezes nem renda, pois as bases da economia se assentam em outras direções. E as redes sociais servem como disseminadores de um ódio difuso, que emana do cotidiano massacrante de falta de perspectivas. Os disparadores que impulsionam atitudes como a do menino de 13 anos são muitos, mas são apenas a gota d’água de um copo que transborda faz tempo.
Ou reunimos a civilização e apresentamos uma proposta alternativa que ganhe corações e mentes em direção à justiça social ou estaremos fadados a conviver com a barbárie numa sociedade necrosada.
Ricardo Alvarez
Vereador do PSOL e professor