Por Gisele Yamauchi e Andréa de Oliveira Tourinho para o Repórter Diário

Entre 1890 e 1989, o ABC passou por um processo de industrialização e se configurou como um dos mais modernos polos industriais do Brasil. Entretanto, as mudanças globais, como a globalização e financeirização da economia, a reestruturação produtiva, as inovações tecnológicas que, somadas às dificuldades econômicas, abertura comercial e a falta de planejamento e de política industrial, produziram um resultado dramático na região a partir de 1990. Em três décadas, a região continua a assistir o seu polo industrial se desmanchar com a saída de empresas e transferência de linhas de produção.

Os frutos desse processo decisório da alta direção das empresas são as áreas industriais ociosas. No ano passado, divulgamos a presença de 308 áreas industriais ociosas no ABC, que, além do impacto na paisagem urbana das sete cidades, representam um alarmante e desconhecido retrato do fenômeno da reestruturação produtiva, que se acumula e se fragmenta no espaço urbano ao longo do tempo.

O recente comunicado de fechamento da unidade fabril de São Bernardo feito pela Toyota do Brasil robustece antigos episódios vividos e toda a dramaticidade diante de um complexo debate que envolve a problemática do fechamento de fábricas e/ou a transferência de linhas de produção do ABC para outras localidades do Brasil ou até para outros países. Se não houver negociação em prol da manutenção dessa unidade fabril, será mais uma nova área industrial ociosa na região.

As complexidades da discussão, de planejamento e de ações que abrangem a temática são superlativas, pois ultrapassam as fronteiras de poderes da esfera pública e envolvendo várias áreas do setor privado. Além disso, a problemática extrapola o limite territorial, compreende todas as escalas – municipal, regional, estadual, nacional e global – e, principalmente, requer a participação de todos os atores sociais – munícipes, corpo técnico e executivo das sete prefeituras, universidades públicas e particulares, delegacias do CIESP, sindicatos patronais e de trabalhadores, entre outros.

Mesmo diante de argumentos de que se perdeu o timing para as discussões voltadas para uma indústria mais moderna, com o advento da indústria 4.0 no cenário mundial, ressaltamos que é preciso seguir em frente, fazer a lição de casa e aprender com os erros.

Em que pese a importância das ações executadas, entre 1996 e 2006, em relação às grandes áreas industriais ociosas, parece que o ABC caiu numa espécie de armadilha. Isto é, na replicação recorrente do modelo de reconversão de espaços para novos usos, iniciado no Projeto do Eixo Tamanduateí, que ainda não foi finalizado. Basta fazer um passeio em seis das sete cidades para notar que, no lugar de antigas fábricas, encontram-se complexos com shopping centers, torres residenciais e business, bem como supermercados.

O problema não reside em dar novos usos, que, inclusive, geram novos postos de trabalho, mas está em não se construir uma visão estratégica econômico-territorial e social-ambiental em direção à centralidade industrial nas cidades do ABC. Se a região deseja manter a sua indústria, para utilizá-la como plataforma de novas reconversões industriais e para promover a reindustrialização, com a inserção de novas tecnologias e, ao mesmo tempo, criando laços entre as tradicionais e as novas formas de organização empresarial, será preciso engendrar uma estratégia econômico-territorial municipal e regional.

É sabido que isso demanda um árduo esforço coletivo, mas é necessário conhecer os tipos de indústrias existentes e suas respectivas conexões para planejar um futuro melhor para o ABC.

Gisele Yamauchi é doutoranda em arquitetura e urbanismo da Universidade São Judas Tadeu.

Andréa de Oliveira Tourinho é professora doutora do programa stricto sensu em arquitetura e urbanismo da Universidade São Judas Tadeu.