Por César Buono

Guilherme Boulos anunciou no dia 21 de março de 2022 a retirada de sua pré-candidatura ao Governo do Estado. Em sua nota, apresenta diversos argumentos e posições que embasaram a tomada de decisão. Como síntese, um trecho da nota:

“O momento do Brasil exige gestos políticos e generosidade. Tomo esta decisão buscando fortalecer a unidade da esquerda no Brasil e em São Paulo.”

A análise e a movimentação de Boulos estão corretas. O momento histórico que vivemos no país demanda de nós, do PSOL, da esquerda e do campo progressista como um todo, a construção de pontes e de ações táticas conjuntas que apontem para a superação do bolsonarismo, do reacionarismo e da carestia. E, também, que visem a revogação das reformas anti-povo implementadas por Temer, Bolsonaro e seus comparsas.

E ninguém faz isso sozinho!

O PSOL, acertadamente, participa da construção de uma frente ampla nacional para derrotar Bolsonaro nas eleições. É sabido que existem contradições nesse movimento. Mas, como a disputa contra Bolsonaro não é apenas eleitoral, a responsabilidade que recai sobre os comunistas e socialistas é a do enfrentamento ao neofascismo que governa o Brasil e disputa a consciência do povo. Contradições a gente supera. Fascismo, a gente derrota. E é impossível fazer isso sozinho.

No Estado de São Paulo, por outro lado, o PSOL havia apontado para a construção de uma candidatura própria, representada por Guilherme Boulos. Tal decisão se colocava como acertada a partir do desempenho eleitoral conquistado pelo partido em 2020, na eleição municipal da capital. Boulos foi ao segundo turno, conquistou 40% dos votos e cumpriu um papel de disputa da sociedade que o colocava como candidato natural ao Palácio dos Bandeirantes.

Mas o tempo é inexorável, a conjuntura não é estanque e não existe espaço vazio na política.

Os tucanos dirigem São Paulo há quase três décadas. E a impressão que se tinha é que tal hegemonia não seria superada no curto prazo. Mas, ao mesmo tempo em que a candidatura de Haddad se colocou como a mais viável do campo progressista, o desgoverno de João Dória abriu fissuras na estabilidade tucana e colocou Tarcísio Freitas, bolsonarista de primeira linha, como principal pleiteante da direita ao posto de Governador.

Tal cenário, que replica em alguma medida a contenda nacional, exige do PSOL São Paulo a mesma maturidade que levou, no ano passado, o Congresso indicar a construção de uma frente ampla contra o Bolsonarismo. Boulos já se movimentou neste caminho. Agora cabe ao partido definir qual será nossa tática localmente.

Existe uma disputa de posição que se materializa de um lado na pré-candidatura apresentada por Mariana Conti, vereadora de Campinas, e, de outro lado, na defesa de uma frente ampla encabeçada pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, do PT.

A controvérsia estadual significa muito mais que uma divergência tática, a qual muitos a resumem. Ela é, na verdade, uma encruzilhada que definirá o papel do PSOL na política paulista no próximo período.

Lançar candidatura própria para marcar posição num cenário de disputa entre o campo progressista e o fascismo é, para além do já usual sectarismo esquerdista, uma pá de cal na construção do PSOL como um partido responsável e com capacidade de influenciar a realidade, nos resumindo a comentaristas da luta de classe. E uma saída óbvia de quem aposta na autoconstrução em detrimento do fortalecimento do PSOL e do enfrentamento real ao fascismo.

A responsabilidade com a luta nos demanda maturidade. A responsabilidade com a história nos exige a unidade.