Artigo sobre a LGBTfobia e o caso das declarações da direção do colégio Liceu Jardim publicado no jornal Diário do Grande ABC no dia 18 de novembro de 2021.
Na última semana, o áudio de uma reunião (3/11) no colégio Liceu Jardim vazou e chocou pelas opiniões LGBTfóbicas emitidas pelo proprietário/diretor da escola, que ferem regras básicas de convivência humana, a Constituição e a legislação educacional brasileira.
No áudio gravado pelos pais, que pode ser ouvido na íntegra no nosso Youtube, o empresário faz afirmações e comparações entre “ciganos, homossexuais, criminosos” dizendo, entre outras coisas, que “se organizaram para atacar os valores da sociedade tradicional judaico cristã”.
Outras falas pregam que “não existe homossexualismo no oriente. Putin e o discurso nacional dele se posicionando contra a ideologia de gênero. China não permite a existência dos homossexuais. Oriente Médio, islã não tolera…” e que “isto não será tido como normal nesta escola”.
Ao receber as mensagens acionamos, junto com o deputado federal Ivan Valente, o Ministério Público (MP) para investigar as declarações, uma vez que atentam às regras da LDB, que estabelece explicitamente o acolhimento e repudia o preconceito.
Em 2020, o Brasil foi considerado pelo 12° ano consecutivo o país que mais matou transexuais no mundo. A rejeição familiar, a marginalização econômica e a impunidade são algumas das explicações para o aumento destes números ao longo dos anos.
Mas não só isso! Discursos de ódio e a afirmação reiterada de que ser gay não é “normal” alimentam e incentivam a discriminação e o preconceito contra esta população e as escolas tem como papel fundamental trabalhar a inclusão e o respeito à diversidade da sociedade, sobretudo dentro da comunidade escolar.
Respeito à diversidade não significa ensinar alguém a ser gay, porque isso não é uma questão de escolha. Ninguém vira gay por estímulo docente. Defendemos o fim da imposição de modelos socialmente definidos como “normais” em detrimento à diversidade e ao sentimento pessoal.
Não existe uma única diretriz na educação brasileira que permita a discriminação e credencie o discurso do proprietário que ensina o que bem entender porque a escola é particular e quem se sentiu incomodado que se mude. O relevante é que o proprietário não pode repudiar a homossexualidade, pois a escola deve obedecer regras, leis e normas.
Espaços que discriminam a população LGBTQIA+ são os mesmos que impediram judeus, negros, mulheres e tantos outros de conviverem pacificamente na sociedade. Exemplos históricos não faltam e o resultado final é sempre trágico.
Defendemos uma escola afetiva e inclusiva, capaz de acolher e dar vazão aos anseios dos estudantes, livre de qualquer tipo de discriminação e do preconceito que têm estimulado a violência e levado pessoas ao sofrimento ao longo do tempo: uma escola sem LGBTfobia!