Foto Guilherme Gandolfi

No último dia 17 de julho, celebramos o aniversário da militante comunista brasileira e ativista pelos direitos das mulheres, Clara Charf, que completou 96 anos de idade. 

Nascida em Maceió, Clara começou a sua militância aos 21 anos, quando se filiou ao Partido Comunista Brasileiro, em 1945, inspirada pela história da filha de Carlos Prestes e Olga Benário, Anita Leocádia, que havia nascido num campo de concentração na Alemanha nazista e acabava de retornar ao país. 

Sobrevivente de duas ditaduras brasileiras, a de Vargas (1937 a 1945) e a Militar (1964 a 1985), Charf viveu clandestinamente no Brasil, ao lado do seu companheiro Carlos Marighella, por quase 20 anos. Foi uma das primeiras mulheres a perder os direitos políticos no início da ditadura, em 1964. 

Durante os anos 1940, trabalhou para a Fração Comunista, órgão do PCB responsável por coletar informações e produzir discursos aos parlamentares do partido. A partir desta época, conviveu com figuras históricas da política brasileira como Jorge Amado, Gregório Bezerra e Luiz Carlos Prestes. 

Clara também chegou a ser presa durante o governo Vargas por conta de uma mala cheia de livros marxistas, que seriam usados num curso de formação política que ela iria ministrar para ferroviários em Campinas. Ficou 4 meses encarcerada. 

Na década de 1960, integrou a organização Ação Libertadora Nacional (ALN), criada por Carlos Marighella para combater o recrudescimento da violência e das perseguições promovidas pelos militares contra a população brasileira. 

Exilou-se em Cuba após o assassinato do seu companheiro durante a fase mais agressiva da  ditadura militar, em 1969, e só retornou ao Brasil após a Lei da Anistia, em 1979. 

Chegou a ser candidata a deputada estadual com a reabertura democrática e foi uma das fundadoras da Associação Mulheres pela Paz, que busca fortalecer e divulgar a cultura de paz, por meio do desenvolvimento da igualdade de gênero, da cidadania e dos direitos humanos.  

Mas a luta por justiça social havia sido despertada em Clara ainda criança, quando um amigo do pai foi preso por ser comunista. Ao ouvir a resposta do próprio amigo do seu pai sobre o que é ser comunista, “no comunismo não há dinheiro, você troca o que tem por aquilo que precisa”, decretou: também sou comunista! 

Em tempos de retrocessos políticos e da volta da fome ao Brasil, a vida e a força da militância de Clara Charf são mais do que um exemplo, são uma inspiração na luta pelo fortalecimento da democracia, em defesa das mulheres e da justiça social no nosso país.