Na maioria das vezes o Haiti chega a nós por vias tortas: fome, genocídio, tragédias naturais, golpes de estado, etc. Em geral, coisas ruins que reforçam um estereótipo de um país incorrigível.

Não é que o Haiti não deu certo, enxerguemos sob outra ótica. Ele não pode dar certo. E isso remonta à história.

Escravidão e plantation deram a tônica até o século 19. Revoltas escravas e rompimento colonial transformaram o país na primeira nação negra e independente do ocidente, isso 100 anos antes que o Brasil. As potências imperialistas não aceitaram.

No século seguinte (20) a França cobrou por perdas de terras e escravos. O bloqueio comercial dos países ricos obrigaram a pagar uma conta esdrúxula e cara: a colônia remunerando a metrópole por perdas exploratórias.

Ainda no começo do século XX, como não poderia deixar de ser, invasão dos EUA e duas décadas de tutela. EUA. Os pretos não podem mostrar que sabem governar.

Na Guerra Fria o combate ao comunismo (sempre ele) também destroçou o país, assim como o nosso, com golpes e quarteladas. Duas décadas depois da saída dos EUA a chegada dos Duvalier (pai e filho) e mais 3 décadas de ditadura apoiada pelos EUA.

Dos anos 90 para cá o país vive as sombras da desestruturação econômica, genocídio e perseguições, disputas da oligarquia branca e rica pelo poder e muita notícia mostrando que o país deu errado. A velha reciclagem de preconceitos racistas, eurocêntricos e coloniais.

Não deu, foi construído desta forma, nesta normalidade anormal. Quando o Haiti aparecer nos noticiários lembre-se que este povo foi reduzido à pó pelas potencias, escravizado e surrupiado em suas riquezas, governado por ditaduras e invasores, matando em massa e expulsando cérebros.

Na fala de Lautaro Rivara: O Haiti não é um “estado falido”, nem um “estado frágil”, nem uma “entidade caótica ingovernável”, nem sua população tem uma propensão natural e genética para o caos, a instabilidade e o desgoverno.

Isso ajuda a desnaturalizar suas mazelas.

Em tempo: grande parte dos militares que estão no comando do Brasil hoje com Bolsonaro formaram-se neste ambiente de ocupação do Haiti na operação MINUSTAH, organizada pela ONU, pensada pelos EUA, operada pelo Brasil e que durou quase 14 anos.